quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Amizade

Tudo começou por puro interesse. Quando os primeiros macacos se tornaram amigos, fizeram isso por motivos bem objetivos - ajudar uns aos outros em lutas contra rivais, no caso dos machos, e cuidar melhor dos filhotes, no caso das fêmeas. A amizade não passava de uma troca de favores. Agora pense nos dias de hoje: com você e os seus amigos, não é assim. Você tem amigos simplesmente porque gosta de estar na companhia deles, certo? 
Errado. Você continua fazendo amizades por puro interesse,  no caso, alimentar o seu cérebro com uma substância chamada ocitocina. É um hormônio que está relacionado ao instinto mais primordial do ser humano: a reprodução. O orgasmo libera ocitocina  e estimula a fêmea a contrair seu útero, o que leva o esperma do macho mais rapidamente até o óvulo e aumenta as chances de ela engravidar. Mas seus efeitos mais profundos acontecem no cérebro. A ocitocina é responsável pelo afeto que a fêmea desenvolve pelo macho, e pelo amor incondicional que ela tem pelos filhos. Ou seja: é a ocitocina que fez, e faz, a espécie se reproduzir com sucesso. Outros animais também produzem esse hormônio. Mas, entre os humanos, ela é muito mais potente. Tanto que influi até nos machos  fazendo com que assumam um comportamento carinhoso, o que é muito raro no mundo animal.
Experiências feitas na Universidade da Califórnia comprovaram que, quando você conhece uma pessoa que lhe pareça confiável, o nível de ocitocina no seu cérebro aumenta. Isso faz com que você se sinta mais propenso a criar uma relação com aquela pessoa. Ou seja, graças à ocitocina, o cérebro aprendeu a transformar algo que era necessário à sobrevivência , a cooperação  em prazer. 
Com a evolução, a amizade deixou de ser imprescindível à sobrevivência do indivíduo. No mundo atual, para obter comida, basta ir a um restaurante. Dá para fazer isso sozinho. Mas é muito desagradável  porque o seu cérebro está condicionado a fazer alianças. É por isso que procuramos amigos, mesmo que tecnicamente não precisemos deles. A ocitocina faz com que tratemos estranhos como se fossem nossa própria família. 
A amizade afeta os sexos de maneiras diferentes. As mulheres produzem mais ocitocina do que os homens. E isso faz com que seu cérebro se organize para ter amizades profundas. Testes feitos no Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA apontaram que, nas mulheres, as áreas do cérebro ligadas a emoções e produção de hormônios se acendem quando existe a possibilidade de conhecer alguém novo. Nos meninos, isso não acontece. É por isso que as mulheres têm, sim, amizades mais intensas do que os homens. Mas, por isso mesmo, elas também são menos tolerantes  e suas amizades duram menos. E a amizade é exatamente isso.

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